
25 set Afinal, como surgiu o Bitcoin?
Comecemos do começo: de onde veio, o que é e para que serve o Bitcoin?
- De onde veio?
O Bitcoin foi criado em 2008 a partir de um texto postado por Satoshi Nakamoto (pseudônimo cujo dono nunca foi revelado – mais sobre isso em breve!) em uma lista de discussão sobre criptografia. O grupo se chamava de cypherpunks e, entre seus membros, eram comuns manifestações antigovernamentais e mesmo anárquicas. Se, por um lado, a tecnologia facilitava e melhorava as vidas das pessoas, por outro, criava mecanismos para o Estado controlar cada vez mais de perto cada passo de todo mundo.
Os cypherpunks viam a criptografia como um instrumento de proteção dos cidadãos contra o Estado, garantindo total privacidade de dados pessoais e transações. Um dos maiores sonhos dessa comunidade era criar uma moeda completamente independente do controle estatal, que permitisse aos usuários realizarem pagamentos de modo simples e anônimo, sem a participação de terceiros.
Aqui, um pequeno parêntesis que será útil adiante: para fazer pagamentos, em geral, precisamos de um terceiro (banco, operadora de cartão de crédito), que eventualmente resolve disputas entre os usuários e confirma que as operações são corretas. Quem nunca teve que estornar um pagamento ou cancelar uma compra com cartão clonado? Para realizar esses serviços, esses intermediários cobram um preço e todas as informações relacionadas às operações realizadas ficam disponíveis para esse intermediário. Voltemos…
- O que é?
De modo bastante tosco, podemos dizer que o bitcoin é resultado de um software por meio do qual o usuário pode resolver problemas matemáticos e, como recompensa, receber essas “moedas”, que podem ser enviadas a outros usuários. Algo como o dinheiro que os jogadores de banco imobiliário que recebem dinheiro ao longo das rodadas.
A ideia é simples, mas as maiores dificuldades eram evitar que usuários mal intencionados simplesmente copiassem os arquivos utilizando as moedas mais de uma vez (algo como um ctrl+c, ctrl+v) ou que atacassem o sistema para alterar o histórico das transações.
Depois de diversas tentativas, como o Digicash de David Chaum, a proposta do misterioso Nakamoto resolveu de forma bastante elegante esses dois principais problemas das moedas digitais. As soluções foram o blockchain e a descentralização.
Vamos falar com mais cuidado sobre o blockchain em outra oportunidade, mas a ideia é que ele funcione como um registro contínuo, que não pode ser alterado e exige a verificação das operações passadas pela maioria dos usuários. Todas as transações já realizadas são incluídas em blocos de informações criptografadas, ligados uns aos outros cronologicamente. A cada 10 minutos (mais ou menos), um novo bloco é acrescentado à cadeia e nada do que ficou para trás pode* ser alterado. O que passou, passou: não há estorno nem cancelamento!
A descentralização aumenta a segurança contra fraudes. A opção de Sakamoto foi fazer com que qualquer usuário pudesse ter uma cópia completa de todo o histórico (atuando como um “nó” da rede) de transações em seu computador. Cada vez que um bloco é adicionado à blockchain, todos os nós verificam se as transações conferem com todo o passado. Se houver alguma discrepância, o bloco é rejeitado. Assim, todos os nós controlam a correção das operações no momento em que as informações são acrescentadas à blockchain, rejeitando blocos com operações incompatíveis. Quanto maior o número de cópias da blockchain, mais seguro os sistema, pois seria necessário que os nós mal intencionados fossem maioria.
- Para que serve?
Para que serve uma moeda? Teoricamente, uma moeda deve servir como unidade de conta, reserva de valor e meio de troca. Teoricamente, o bitcoin com certeza pode ser utilizado para essas três funções, mas ainda é difícil afirmar que ele tem a mesma função de uma moeda fiduciária com curso forçado (não pode ser recusado) e poder liberatório (para cumprir obrigações, como pagar tributos).
Diversas outras questões são importantes para o funcionamento do bitcoin (e outras criptomoedas), como a mineração, as chaves digitais, os incentivos oferecidos aos mineradores, o critério utilizado para definir qual nó tem o direito de acrescentar um novo bloco à cadeia (proof of work, no caso do bitcoin) e que serão abordadas. Por enquanto, podemos ficar com a conclusão de que o bitcoin foi criado como um modo alternativo de pagamentos que não dependesse de nenhuma instituição para existir, funcionando com base em uma rede de usuários (peer to peer), sem nenhuma autoridade central.
* Em tese, é possível alterar os blocos passados. No entanto, na prática, a capacidade de processamento de dados necessária para tanto torna a tarefa economicamente inviável.
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